Por Felipe Nunes
Tenho
convicção de que os exemplos do trânsito formam um bom argumento contra o anarquismo. Se não houvessem leis para frear nossos
impulsos, agiríamos, muitas vezes, como animais irracionais. Isso é
observado quando as regras não são respeitadas. As cenas que vejo
nas ruas e avenidas dão respaldo a essa premissa.
Ontem,
ao sair do trabalho, quase fui atropelado ao utilizar uma faixa de
pedestres para atravessar uma movimentada avenida. O sinal, que
estava vermelho, ficou verde quando eu estava na metade do percurso
até o outro lado. O sinal ficou verde e o som dos motores acelerados
logo deu o tom desesperado do momento.
Na
retaguarda, em questão de segundos, as motos já passavam sem escrúpulos. Na minha frente,
um motorista ligou os faróis altos. Na faixa seguinte, o motorista
buzinava, colocava a cabeça para fora do carro, resmungava palavras
que eu não entendia e apontava para o sinal verde, ao que eu
respondi, numa atitude impensável: “Volte para a autoescola!”. O
motorista certamente nunca leu o artigo 70 do Código de Trânsito
Brasileiro (CTB), que diz expressamente: “Nos locais em que houver
sinalização semafórica de controle de passagem será dada
preferência aos pedestres que não tenham concluído a travessia,
mesmo em caso de mudança do semáforo liberando a passagem dos
veículos”. Eu consegui atravessar ileso.
Cinco minutos depois,
eu já não era pedestre, mas condutor. Adiante, no Parque Solon de
Lucena, pedestres, sem espaço, dividiam o espaço de ônibus, carros
e caminhões. Era a segunda situação que denotava desrespeito e
desprezo ao mais fraco, que anda a pé. No primeiro caso, desrespeito
praticado por um motorista que não deveria estar na direção. No
segundo caso, um ônus temporário, de uma obra pública de
urbanização, mas que coloca em risco a vida de muitas pessoas.
O
CTB diz que os condutores são responsáveis pela segurança dos
pedestres. Isto não é observado na prática. A Constituição
Federal, por sua vez, garante o direito de ir e vir a todo e qualquer
cidadão. O Estado, porém, não garante que o caminho está
livre de obstáculos.
Se
a lei não é observada, a irracionalidade pode prevalecer. Tomemos cuidado.
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