terça-feira, 25 de abril de 2017

Filme retrata pioneira da reforma psiquiátrica


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Descrição para cegos: cartaz do filme.

Mostra a atriz Glória Pires, que interpreta

a protagonista, de costas, projetada sobre

círculos e retângulos.

              Por Anderson Santana

        O filme Nise, o Coração da Loucura, lançado em 2015, retrata a trajetória da psiquiatra alagoana Nise da Silveira (1905-1999), uma das precursoras dos ideais e ações da reforma psiquiátrica no Brasil, responsável pela humanização dos tratamentos de transtornos mentais.
       Tendo sido a única mulher entre 158 formandos na turma de 1931 da Faculdade de Medicina da Bahia, Nise tornou-se uma das primeiras médicas brasileiras.
        Especializou-se em psiquiatria ao mudar-se para o Rio de Janeiro com o marido, Mário da Silveira. Ambos optaram por não ter filhos para se dedicarem integralmente à medicina.  
         O filme inicia no momento do regresso da médica ao serviço público, após anos de afastamento por razões políticas. As primeiras cenas mostram a precariedade dos hospitais psiquiátricos nos anos 1940 e as condições degradantes às quais os pacientes eram submetidos: sujeira, maus tratos e agressões. Algumas cenas retratam os pacientes mais violentos isolados em quartos minúsculos, passando dias sem a luz do sol e contato humano.
      

         Muitos dos internos eram submetidos a eletrochoques, método muito aceito à época para conter as crises psicóticas e para apaziguar os portadores de transtornos mais difíceis de contenção.
        A médica, desde o início da carreira, era contrária a tais tratamentos, postura reprimida por muitos de seus colegas; mesmo assim, Nise permaneceu firme com seus posicionamentos, combatendo também, fortemente, a cirurgia de Lobotomia, que retirava parte do cérebro visando a cura da esquizofrenia, porém, incapacitava os pacientes até o fim de suas vidas.
      A psiquiatra era adepta da reabilitação através da arte e da criatividade e inseriu técnicas de terapia ocupacional no tratamento de transtornos mentais, chegando a criar, com sua equipe, um ateliê, em 1944, dentro do Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, subúrbio do Rio de Janeiro. Os resultados dessa iniciativa são mostrados no longa-metragem: exposições abertas ao público e sucesso de críticas, enaltecendo a capacidade artística das pessoas com transtorno esquizofrênico, o que reiterava os benefícios das atividades terapêuticas com os novos métodos.
      O filme mostra também o pioneirismo de Nise da Silveira na pesquisa sobre as relações emocionais entre pacientes e animais, através da inserção de cães no manicômio como auxílio nas relações afetivas dos seus “clientes” - forma como chamava os pacientes – para, assim, reaproximá-los das pessoas.
      Outros métodos libertários utilizados por ela no tratamento da esquizofrenia, a exemplo de passeios em meio à natureza e atividades de socialização que contribuíam para reinserir as pessoas com este transtorno na sociedade são reproduzidos no filme dirigido por Roberto Berliner e estrelado por Glória Pires, baseado no livro Nise - Arqueóloga dos Mares, do jornalista Bernardo Horta.
      A luta e o pioneirismo da psiquiatra alagoana contribuíram para tratamentos mais dignos das pessoas com transtornos mentais no Brasil, sendo considerada como responsável por “revelar as emoções dos esquizofrênicos”, sendo também fundadora do Museu de Imagens do Inconsciente, um centro de estudo e pesquisa reconhecido internacionalmente destinado à preservação dos trabalhos produzidos no ateliê de modelagem e pintura.  
       Em sua trajetória, Nise da Silveira obteve reconhecimento de seus métodos pelo renomado psiquiatra suíço Carl Gustav Jung e por inúmeros pesquisadores no mundo todo. Hoje, no Brasil, a Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, garante a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e, assim, condições mais íntegras nos tratamentos.

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