Hospital Colônia de Barbacena / Crédito:Geração Brasil - Divulgação |
Por Natan Cavalcante
Quando pensamos em “loucura” e na recuperação
psiquiátrica, logo vislumbramos um estereótipo construído no imaginário
cultural durante longos anos. Imaginamos, por exemplo, a figura do paciente de
algum transtorno mental como um ser agressivo e fora de si; portanto, um perigo
iminente para a sociedade. Partindo desse estigma construído, a mais comum das
práticas seria o completo isolamento social do doente mental em um hospital
psiquiátrico ou manicômio, onde permaneceria, muitas das vezes, até o fim dos
seus dias.
Na literatura e no cinema, a exemplo de obras como O Alienista, famoso conto de Machado de
Assis, e O Bicho de Sete Cabeças,
filme dirigido por Laís Bodanzky e lançado no ano 2000, vemos que o modelo
manicomial e hospitalocêntrico também aparecem como exemplos de tratamento para
a figura de um doente poucas vezes recuperável, em que um tratamento quase
sempre brutal e desumano é empregado. O que, não raramente, apenas agrava o
estado do paciente.
Para além da ficção, exemplos reais de como esses
centros de recuperação agiam longe dos princípios de um tratamento humanizado
são fartos. E foi baseada nessa realidade que, a partir da década de 1970, uma
Reforma Psiquiátrica começou a ser discutida. E a necessidade de mudanças no
sistema de apoio e tratamento ao paciente com algum transtorno mental vai se
tornando ainda mais evidente.
Somente com o surgimento do Movimento
Antimanicomial, no final da década de 1980, a luta por direitos e melhores
condições de tratamento ganhou mais força. A inserção social e a busca da
cidadania do doente mental passou a ser a pauta.
Na redação da Constituição Federal de 1988, fica
posto que “a saúde é direito de todos e dever do Estado”, e que deve ser
assegurado o bem-estar mental, a integridade psíquica e o pleno desenvolvimento
intelectual e emocional.
Em 2001, como resultado de longas lutas sociais, foi
promulgada a Lei 10.216/2001, também conhecida como a Lei Antimanicomial. Ela
legitima a Reforma Psiquiátrica como política de Estado e torna-se a base para
grandes mudanças no sistema de tratamento psiquiátrico brasileiro. Enfatiza a
proteção e os direitos das pessoas com algum transtorno mental e a construção
de uma rede de cuidados aberta e territorial, contrapondo com o modelo
hospitalocêntrico.
Como resultados dessa lei surgem notáveis mudanças,
como a abertura de inúmeros Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e das
Residências Terapêuticas, e da instituição de programas como de De Volta para Casa, que é um
auxílio-reabilitação para assistência e integração social de pacientes com
histórico de longa internação psiquiátrica. Tudo isso, ao passo que os leitos
em instituições psiquiátricas são proporcionalmente extintos.
Na prática, o sistema pode não funcionar tão bem
quanto no papel. Apesar disso, a luta pelo respeito aos direitos da pessoa
humana tem que ser constante. Mas, sem dúvida, houve um grande avanço no tocante ao tratamento desses pacientes, que passou a ser muito mais
inclusivo e humanizado.
Podemos destacar como causa dessa evolução no
tratamento, o avanço da medicina e da indústria farmacológica, mas sobretudo as
lutas sociais pela cidadania e pelo respeito da pessoa com algum transtorno
mental, propondo a construção de um sistema de tratamento que promova a
reabilitação social.
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