segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A educação em Direitos Humanos na defesa da humanidade

Presídio de Pedrinhas, São Luís – MA. Rebelião por melhores condições acabou com 9 mortos e 20 feridos. Foto: Mário Fernandes/ Estadão.


Em pleno século XXI ainda encontramos grupos que fazem associação entre os direitos humanos e a defesa exclusiva de criminosos, afirmando constantemente que “os direitos humanos defendem os bandidos, mas nunca os cidadãos de bem”. No entanto, tal associação é totalmente equivocada, uma vez que homens e mulheres que cometeram algum delito são, antes de tudo, humanos, donos inegáveis de direitos, garantidos pela Declaração Universal de 1948. Desse modo, essa universalização de garantias deve atingir a todos, brancos ou negros, ricos ou pobres, criminosos ou não, como relata o professor da Universidade Federal do Tocantins, Roberto Dalmo, referenciando o caso de um menor infrator de 15 anos, preso nu a um poste por moradores no Rio de Janeiro, apelidado ainda de “marginalzinho” pela jornalista Rachel Sheherazade. (Stwart Lucena)


A educação em Direitos Humanos não é uma defesa de bandidos, é a defesa da humanidade


“E aos defensores dos direitos humanos, que se apiedaram do marginalzinho preso ao poste... eu lanço uma campanha: adote um bandido”.
E com essa frase Rachel Sheherazade, ainda não muito conhecida, ganha seus seguidores fieis. Torna-se amada por uns - que admiram a "verdade" de suas palavras -, e desprezada por outros - que dão ênfase à ignorância de sua fala. Amando ou odiando é possível perceber que a apresentadora direcionou a fala aos defensores dos Direitos Humanos. Talvez, para a apresentadora, esses "defensores" atrapalhem a ordem social e causem certo distúrbio e certa dificuldade a todos aqueles que buscam justiça. Talvez, muitos tenham concordado com a apresentadora e, talvez, por isso, muitos tenham vibrado por alguém que disse aquilo que eles não tiveram coragem de dizer. Sim, a fala da âncora do SBT trouxe representação a muitos que pensavam como ela. Sim, sua fala amplia o estereótipo dos Direitos Humanos com a defesa do crime e dos menos dignos.
E ainda querem uma Educação em Direitos Humanos? - Vocês só podem estar loucos [diz um cidadão mal intencionado ou cheio de ideias erradas sobre os direitos humanos]
Sim, eu acredito profundamente em uma educação que tenha os Direitos Humanos como princípio fundamental na construção de uma sociedade mais justa.
Os Direitos Humanos não são Direitos para criminosos, são direitos para humanos, ou seja, para todos. Quando o Artigo 5 da Declaração Universal afirma que "Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante", ele afirma que NINGUÉM SERÁ SUBMETIDO e não apenas uma seleta gama de "cidadãos de bem" - conceito totalmente questionável. Já o Artigo 1 diz que "todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos...". Será? Todos são tratados como iguais em direitos ou alguns são tratados com uma indiferença ímpar? Se você disse que nem todos são tratados iguais, nós concordamos. Se você acredita que todos são tratados iguais a Educação em Direitos Humanos pode ser um caminho interessante (se você estiver disposto).
Parto do princípio que ninguém nasce formado e pensando Direitos Humanos, assim como ninguém está completo. Temos muito para construir e faremos isso a partir do diálogo - juntos. A educação em Direitos Humanos não é uma defesa de bandidos, é a defesa da humanidade em uma sociedade desumanizada, é a defesa da razão acima dos pensamentos de ódio e da compaixão acima de uma razão sanguinária.
Educar em Direitos Humanos passa pelo estabelecimento de um olhar crítico para a sociedade, um olhar que permite se indignar com aquilo que é considerado normal, instigando à percepção das violações de Direitos Humanos existentes, cometidas no cotidiano, em nossos atos de fala. Educar em Direitos Humanos traz um agir que luta por uma sociedade mais justa e que valorize, com ética, as diversas formas do ser. (...)



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