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A violência doméstica atinge milhares de mulheres em todo o mundo. Independente de idade, sexo, raça, cultura, religião, educação, emprego ou estado civil, as vítimas passam a fazer parte desse problema social quando sofrem agressões físicas ou psicológicas vindas de pessoas que habitam ou frequentavam o mesmo domicílio.Ao contrário do que ainda pode se pensar por aí, a violência doméstica não afeta exclusivamente a vítima direta da ação. Segundo estudo desenvolvido pela psicóloga Clementina de Almeida, na Universidade de Coimbra (Portugal), bebês de mães que sofreram esse tipo de violência durante a gravidez apresentam retardo no desenvolvimento físico e mental.Além de elencar a gravidez como fator que potencializa a violência doméstica, a psicóloga ainda aborda algumas consequências desse problema para as mulheres. O artigo a seguir, publicado no portal Visão , traz mais informações sobre o estudo. (Irene Sá)
Os bebês de vítimas de violência doméstica durante a gravidez apresentam atrasos no desenvolvimento logo no primeiro ano de vida, concluiu o doutoramento da psicóloga Clementina de Almeida, na Universidade de Coimbra.
Segundo o estudo desenvolvido, os bebês apresentam
"mais ansiedade, mais comportamentos agressivos, mais comportamentos de
desregulação e muita irritabilidade", referiu Clementina de Almeida. A
psicóloga conseguiu, também, observar que estes não conseguem alcançar algumas
metas no desenvolvimento da "linguagem, locomoção ou coordenação".
A avaliação cognitiva e emocional dos bebês foi
feita aos três meses e meio e aos 12 meses, tendo sido possível observar
atrasos no desenvolvimento mental do bebê e perturbações
"sócio-emocionais" nos dois momentos de análise, sublinhou Clementina
de Almeida.
Ao todo, foram analisadas em 2010 204 grávidas com
uma média de idades de 29 anos, tendo 58% sido alvo de pelo menos um ato de violência
doméstica durante a gravidez.
Das mulheres vítimas de violência, 59% sofreram de
violência psicológica, 25% de coerção sexual e 18% de agressão física.
A gravidez surge como fator que pode "aumentar
a agressividade da violência que já existe ou pode até iniciá-la", disse à
agência Lusa, sublinhando que "a violência física e a psicológica são
fatores de risco" para o bebê.
A própria violência doméstica afeta também a "autoestima"
das mulheres, que apresentam "mais quadros depressivos moderados e graves"
do que as mães não vítimas, sendo que a debilidade da saúde mental materna
acaba por determinar "um atraso ainda maior" no bebê, salientou.
Segundo as conclusões do doutoramento, a violência
doméstica também "parece ter um efeito negativo ao nível das atitudes
maternas durante a gravidez", não afetando, porém, "o nível de
envolvimento" entre mãe e bebê.
"Nos resultados, todos os bebês apresentaram
melhorias no seu desenvolvimento, da primeira avaliação para a segunda. No
entanto, os bebês filhos de mulheres que sofreram violência durante a gravidez
obtêm consistentemente níveis ligeiramente inferiores", constata ainda
Clementina de Almeida, considerando que a violência pré-natal, apesar de não
afetar "diretamente" o desenvolvimento do bebê, acaba por ser um
fator que pode dificultar "o desenvolvimento do pleno potencial" do
mesmo.
Clementina de Almeida defendeu ainda que os bebês
"deveriam ter um acompanhamento específico", sendo "fundamental
uma intervenção precoce".
"Um bebê vítima de violência
está mais predisposto a encontrar-se com situações abusivas", notou,
criticando a inexistência por parte do Estado de um mecanismo que possa ser
acionado para um acompanhamento dos filhos de vítimas de violência doméstica.
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