Foi divulgado, no dia 29 de janeiro, o relatório da ONG Human
Rights Watch a respeito da proteção aos direitos humanos em 90 países. O
Brasil, mesmo sendo uma democracia há 30 anos, ainda sofre com problemas
crônicos da época da ditadura, como a tortura em presídios. Além disso, o
excesso de força letal por parte de agentes públicos, especialmente das
polícias do Rio e de São Paulo, é destacado pela organização, bem como as
péssimas condições dos presídios. Confira abaixo os principais pontos
mencionados ou clique aqui para ver o relatório
na íntegra. (Marco Galindo)
O Brasil está entre as democracias mais
influentes em assuntos regionais e globais. Nos últimos anos, tornou-se uma voz
cada vez mais importante em debates sobre as respostas internacionais a
problemas de direitos humanos. No plano doméstico, entretanto, o país continua
enfrentando graves desafios relacionados aos direitos humanos, incluindo
execuções extrajudiciais cometidas por policiais, tortura, superlotação das
prisões e impunidade para os abusos cometidos durante o regime militar
(1964-1985).
Para lidar com altos índices de criminalidade,
alguns policiais brasileiros se envolvem em práticas abusivas e permanecem
impunes. Recentemente, os governos dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro
adotaram medidas para melhorar o desempenho das polícias e cessar os abusos,
mas falsos boletins de ocorrência e outras formas de acobertamento persistem.
No início de junho, centenas de milhares de
pessoas pelo país protestaram contra serviços públicos inadequados, a corrupção
e o alto custo das preparações para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos de
2014 e 2016, entre outras insatisfações. Em vários incidentes, policiais usaram
gás lacrimogênio, spray de pimenta e balas de borracha contra manifestantes de
forma desproporcional. Em outubro, mais de 200 pessoas foram presas no Rio de
Janeiro após uma manifestação durante a qual bancos, lojas e edifícios foram
destruídos. O Ministro de Estado da Justiça e agentes de segurança pública dos
Estados do Rio de Janeiro e São Paulo anunciaram, em novembro, que trabalhariam
em conjunto para prevenir e punir atos de violência cometidos por manifestantes
e policiais.
Em agosto, a Presidente Dilma Rousseff
sancionou uma lei que cria o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à
Tortura. O mecanismo será formado por 11 peritos com poderes para realizar
visitas periódicas a estabelecimentos civis e militares em que indivíduos são
privados de sua liberdade.
Segurança pública e conduta
policial
A violência generalizada por grupos
criminosos e policiais abusivos é um grave problema em diversas cidades
brasileiras. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (uma
organização não governamental que coleta dados oficiais de órgãos estaduais e
federais), 1.890 pessoas morreram em confronto com policiais em serviço no
Brasil em 2012. É uma média de cinco pessoas por dia. Somente nos Estados do
Rio de Janeiro e São Paulo, policiais foram responsáveis por 362 mortes no
primeiro semestre de 2013, registradas como resultado de confrontos com
criminosos. No entanto, nem todas as mortes ocorridas em decorrência de ação
policial resultam do uso legítimo de força, fato esse documentado pela Human
Rights Watch e outros grupos e reconhecido por agentes da justiça criminal
brasileira.
Em janeiro de 2013, o governo do Estado de
São Paulo editou uma resolução que proíbe policiais de removerem os corpos de
vítimas de confronto das cenas do crime. Trata-se de uma tentativa de impedir o
acobertamento de execuções extrajudiciais cometidas por policiais.
Posteriormente, as mortes ocorridas em decorrência de ação policial no estado
caíram aproximadamente 34% no primeiro semestre de 2013, segundo dados
oficiais. No entanto, ainda há obstáculos significativos à responsabilização
por execuções extrajudiciais em São Paulo, como falhas na preservação de provas
forenses e a falta de profissionais e recursos para assessorar o Ministério
Público na sua tarefa constitucional de exercer o controle externo da polícia.
Em abril de 2013, no Estado do Rio de
Janeiro, 11.749 policiais e outros servidores públicos receberam compensação
financeira por alcançarem metas de redução de criminalidade e violência,
incluindo mortes em decorrência de ação policial. Até setembro de 2013, 34 Unidades
de Polícia Pacificadora (UPPs) haviam sido criadas em comunidades de baixa
renda com o objetivo de proporcionar uma presença policial mais eficaz. O
programa foi severamente criticado quando Amarildo Dias de Souza, um morador da
comunidade da Rocinha, desapareceu no dia 14 de julho após ser preso por
policiais da UPP local, que afirmaram tê-lo libertado. Em 2 de agosto, a
Ministra de Estado de Direitos Humanos conclamou o governo do Rio de Janeiro a
garantir que o desaparecimento de Amarildo fosse devidamente investigado. Em
outubro, 25 policiais foram denunciados pela prática do crime de tortura em
relação ao desaparecimento de Amarildo. Dezessete deles também foram
denunciados pelo crime de ocultação de cadáver.
Condições carcerárias,
tortura e maus-tratos
Muitas prisões e cadeias brasileiras
enfrentam grave superlotação e violência. A taxa de encarceramento do país
subiu quase 30% nos últimos cinco anos, de acordo com o Sistema Integrado de
Informações Penitenciárias (InfoPen) do Ministério da Justiça. A população
carcerária adulta atual é superior a meio milhão de pessoas—43% além da
capacidade do sistema prisional. Ademais, 20 mil adolescentes cumprem medidas
que implicam privação de liberdade. Os atrasos no sistema de justiça contribuem
para a superlotação. Quase 200mil presos aguardam julgamento. No Estado do
Piauí, 66% dos presos custodiados no sistema penitenciário são presos
provisórios, a maior taxa do país.
A superlotação e a falta de saneamento
facilitam a propagação de doenças; o acesso dos presos à assistência médica
continua inadequado. A tortura é um problema crônico em delegacias de polícia e
centros de detenção. A Subcomissão das Nações Unidas para a Prevenção de
Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos e Degradantes informou que
recebeu relatos “repetidos e consistentes” de presos sobre espancamentos e
outros maus-tratos durante a custódia policial. Agentes da segurança pública do Estado do Paraná
foram denunciados criminalmente pelo espancamento, sufocamento e aplicação de choques
elétricos a quatro homens para forçá-los a confessar o estupro e assassinato de
uma menina de 14 anos em julho de 2013. Em agosto de 2013, a imprensa divulgou
imagens das câmeras de segurança do complexo prisional de Vila Maria, no Estado
de São Paulo, mostrando agentes da Fundação CASA (Centro de Atendimento
Socioeducativo ao Adolescente) espancando seis adolescentes. O diretor da
unidade e outros três funcionários supostamente envolvidos no incidente foram
afastados.
Autoridades responsáveis pela aplicação da lei que cometem abusos
contra presos e detentos raramente são levados à justiça. Uma notável exceção
ocorreu em agosto de 2013, quando 48 policiais foram condenados pelo homicídio
de parcela relevante dos 111 detentos mortos na prisão do Carandiru, Estado de
São Paulo, em 1992.
Em agosto de 2013, a Presidente Dilma
Rousseff assinou uma lei que cria o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à
Tortura. O Mecanismo será formado por 11 peritos com poderes para realizar
visitas periódicas a estabelecimentos civis e militares nos quais pessoas são
privadas de sua liberdade. Também poderão iniciar investigações sobre possíveis
casos de tortura e fazer recomendações a instituições públicas e privadas. No
momento em que este relatório foi escrito, o Mecanismo ainda não havia entrado
em pleno funcionamento.
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