Por Marco Galindo
“Eles
lançam um feitiço em você, você sabe, os judeus. Quando você trabalha perto
deles, como eu, você vê isso. Eles têm esse poder. É como um vírus. Alguns de
meus homens estão infectados com esse vírus. Eles devem ser perdoados, não
punidos. Eles devem receber tratamento, porque isso é tão real quanto o tifo.”
A frase
acima foi dita por Amon Göth, tenente da SS (tropa de elite nazista), e
refletia um sentimento generalizado na população alemã – o de que os judeus
eram uma espécie de praga, responsável pela crise econômica pela qual a
Alemanha passava na época. Tal crença serviu de sustento para as ações que
levaram ao holocausto, uma das maiores violações dos direitos humanos já vistas
na história da humanidade.
No entanto,
por mais que fosse um movimento bastante difundido e aceito na sociedade alemã,
o nazismo encontrou resistências. Uma delas foi personificada na figura de Oskar
Schindler, cuja história é narrada no filme “A Lista de Schindler”, de Steven
Spielberg. A obra, eleita pelo American Film Institute como o oitavo melhor
filme americano da história, venceu sete Oscars, incluindo o de Melhor Filme e
Melhor Diretor, além de três Globos de Ouro e sete BAFTAs.
Oskar era
um empresário alemão, membro do partido nazista, que planejava lucrar com a
guerra abrindo uma fábrica de panelas para o exército. Subornando oficiais
nazistas para conseguir contratos, ele rapidamente expandiu seus negócios,
contando com a ajuda de Itzhak Stern, oficial do Conselho Judeu, para a
contabilidade. Schindler deu preferência para a contratação de judeus
poloneses, por serem mais baratos que os católicos. Essas pessoas passaram a
ser consideradas “essenciais” para o êxito da Alemanha na Segunda Guerra, o que
as salvou dos campos de concentração.
Contudo,
Oskar só passaria a se empenhar de verdade no resgate de judeus quando
presenciou a destruição do gueto da Cracóvia, ordenada pelo tenente Amon Göth.
À medida que os rumos da guerra mudavam, Göth recebeu ordens de Berlim para
mandar todos os judeus, inclusive os que trabalhavam na fábrica de Oskar, para
Auschwitz. Oskar então resolveu se aproximar de Göth e o subornou a fim de
conseguir salvar seus trabalhadores, cujos nomes constavam numa lista, a Lista
de Schindler.
Dessa forma, se valendo de
sua influência no alto escalão nazista e comprando o apoio de oficiais, Oskar
conseguiu assegurar a vida de seus empregados até o fim da guerra, ao custo de
toda a sua fortuna. Como ele era um membro do partido nazista, que também
lucrou com o conflito, fugiu do Exército Vermelho (tropas russas), que se
aproximava da fábrica. Antes disso, no entanto, ele recebeu uma carta dos
judeus que salvou, explicando que ele não é um criminoso, para ser usada como
prova de seus feitos em defesa da vida daquelas pessoas. Envergonhado por achar
que poderia ter resgatado ainda mais judeus, ele deixou a fábrica com sua
esposa.
Falar de Segunda Guerra
Mundial é, por consequência, falar de direitos humanos. Sabemos que a
Declaração Universal dos Direitos Humanos foi elaborada logo após o conflito,
motivada principalmente pelo medo de que os horrores cometidos no período
voltassem a se repetir. Mecanismos de respeito à vida, à dignidade humana e à
liberdade, princípios violados sistematicamente pelos nazistas, foram estabelecidos
a fim de que a humanidade jamais passasse por um período semelhante novamente.
Além disso, instrumentos jurídicos como o Tribunal de Nuremberg foram
executados como forma de punir os responsáveis pelo genocídio judeu e garantir
que outra ação da mesma magnitude não ficaria impune.
Em meio a uma profusão de
filmes que abordam a temática do nazismo e do holocausto, “A Lista de
Schindler” ganha notoriedade não só por aspectos artísticos e estéticos, como a
bela fotografia e trilha sonora. A obra se destaca por abordar especificamente a
vida de um homem que tinha tudo para se beneficiar do status quo, mas decidiu
manter-se firme aos seus princípios morais. Oskar era bem relacionado e
carismático, e poderia ter feito uma grande fortuna durante a Segunda Guerra.
Contudo, seu legado está hoje nas gerações de famílias judias que sobreviveram
graças aos seus esforços na luta pelo direito humano mais sagrado, o direito à
vida.
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